CRÍTICA: TUCA & BERTIE

07/05/2019

Tuca & Bertie é a nova aposta da Netflix para renovar as animações para jovens e adultos, sendo dessa vez feita pelas e para as mulheres.

Ficha Técnica:

Ano: 3 de Maio de 2019            Duração: 30 min          Criadora: Lisa Hanawalt 

Gênero: Comédia, Besteirol, Mulheres, Drama e Animação

N° de episódios: 10

Sinopse: (a partir dos 16 anos)

Numa cidade chamada Cidave, Tuca e Bertie, respectivamente uma tucano e uma canora, são amigas de longa data que dividem apartamento juntas, enfrentando altos e baixos. As duas se completam; enquanto Tuca é exagerada, extrovertida e sem noção, Bertie é moderada e introvertida, sempre se pautando na sua ansiedade. As duas formam uma perfeita balança. Mas tudo muda na vida das duas passarinhas quando Bertie decide morar com seu namorado, Speckle e Tuca passa a morar sozinha. Tuca e Bertie começam então, a ter uma jornada de autodescoberta.

(ESSA SÉRIE É ORIGINAL NETFLIX)

Recomendação e Crítica:

Tuca & Bertie prometia ser uma série animada sobre duas passarinhas adultas na casa dos 30 anos que são grandes amigas e se metem em grandes aventuras. E foi. Mais que isso, a série é um show de outras variadas formas e é um desenho que não merece, mas precisa ser assistido. Com apenas 10 episódios de 30 minutos cada, é impossível não maratonar tudo e querer mais.

Num tempo onde as mulheres tem ganhado cada vez mais espaço nas telinhas do cinema e  séries, ainda é difícil a mulher se ver espelhada numa série animada, já que as opções em sua maioria são uma cartela de desenhos besteirol, como Family Guy ou Paradise Police, que objetificam a mulher a diminuem em função do homem, sendo mero degrau para a história do principal ou um troféu de conquista (como é na maioria dos filmes, na verdade). Fora esses, temos o "refinado demais" Rick e Morty que para alguns nerds é só pra quem entende as referências e temos o cômico retrato depressivo de Bojack Horseman. Essas duas últimas, bastante faladas entre os jovens adultos e discutidas como plano de fundo pra algo maior, começam a dar espaço para novas ideias no mundo da animação. 

Junto duas ideias; em Rick e Morty, temos uma jogada psicodélica e monstruosa, brincando com cores. Em Bojack, temos pautas sociais e problemas atuais sendo discutidos mascarados por trás de humor ácido e situações incomum, tanto que, o próprio cenário Hollywoodiano de Bojack mascara situações cotidianas com um ataque de estrelismo, além da imagem literalmente, animalesca das pessoas, já que a maioria dos personagens são animais. E a junção dos dois, forma uma nova versão do mundo das comédias animadas: Tuca & Bertie.

 O diferencial de Tuca & Bertie, dentro de toda essa cartela de animações, é que ele não tenta ser mais do que apresenta de início. Não tenta ser um desenho de família ruim, muito menos um desenho grosseiro chamado de cult

A série junta várias jogadas infalíveis, quase como uma fórmula rápida pra conquistar o telespectador, e consegue: tem um roteiro sagaz, rápido, com tiradas joviais sem soar forçado e brincadeiras com palavras (legendado então, as dubladoras comediantes Ali Wong e Tiffany Haddish fazem acontecer), colocando as pessoas como diferentes tipos de pássaros e ocasionalmente como outros animais. Representações com significado, como o homem que é incômodo pra outras mulheres, popularmente o "macho escroto", representado por um forte galo.

Além disso, a série usa e abusa de cores, formas, movimentos psicodélicos e jogos de imagens, utilizando um espaço mais simples e menos detalhado que de outros desenhos, com uma cidade colorida, cheia de pássaros, com metrô, prédios e plantas diferenciadas. Também usa uma quebra do padrão de desenho, como por exemplo quando utiliza massinhas ou fantoches para contar determinada situação.

Mais que tudo isso, Tuca & Bertie é atual e necessário porque conta a passagem da jovialidade para a vida adulta para as mulheres. A montanha-russa de decisões, relacionamentos, casa, apartamento, amizades e empregos fazem com que a pessoa mude de uma hora pra outra e tenha altos e baixos. É necessário porque dentro de todo o humor cítrico das duas passarinhas, temos conversas com quem assiste, sobre; ansiedade, namoro, masturbação, encontros, assédio, evolução, amizade (e indiretamente, amizade tóxica), problemas familiares, traumas e muito mais. Enquanto eu passava de um episódio para o outro querendo me divertir mais, já que os episódios sagazes faz com que você devore a série, eu também refletia, aprendia e pensava sobre o meu próprio futuro, como mulher e como amiga de outras mulheres, diferentes.

As pessoas acabam seguindo caminhos diferentes, mas, se tiverem que voltar, não importa qual rota peguem e quanto tempo demore, elas voltam e deixam a balança aferida novamente. Tudo como deve ser, mesmo um pouco rachado pelas batidas ou pelo tempo. Como é dito na série;

"Coisas quebradas ficam lindas com um pouco de paciência."

Interessante ver a evolução das personagens, as decisões que tomam e como se completam. Uma delas, é exagerada, divertida e libertadora. A outra, tímida, retraída, ansiosa, insegura e cheia de dúvidas na vida, junto de um grande talento e responsabilidade. É impossível não se identificar com uma das duas, ou melhor, as duas, já que não somos só uma delas e acaba que, como Tuca & Bertie se completam, juntas, as duas formam mulheres fortes como nós. E mais que isso, impossível não rir e lembrar de uma amiga; que se foi, que está e quem sabe, que virá ou voltará.

Uma série Girl Power, necessária, que espero que mais que rapidamente, seja renovada pra falar mais sobre as mulheres e com elas.

NOTA: 8,5/10




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