CRÍTICA: BOJACK HORSEMAN - 6 Temporada

27/10/2019

A primeira metade da 6 Temporada de Bojack Horseman mostra as raízes da série de animação da Netflix; a filosofia humana. E começa a se despedir de maneira inesquecível.

Ficha Técnica:

Ano: 2014      Criador: Raphael Bob-Waksberg      Temporadas: 6  Episódios : 72 

Emissora: Netflix

Gênero: Comédia, Humor Negro, Animação, Sitcom, Drama

Sinopse: (Não recomendado para menores de 16 anos)

BoJack Horseman (Will Arnett) é um decadente cavalo que trabalhava na TV, se tornando uma estrela esquecida de um seriado da década de 1990 chamado Horsin' Around. Ele disfarça sua baixa auto-estima com uísque, sexo e escândalos. Com a ajuda de Todd (Aaron Paul), seu parceiro humano, e a ex-amante Princess Carolyn (Amy Sedaris), ele quer deixar novamente a sua marca no mundo do entretenimento, escrevendo um livro. Para isso, vai precisar da ajuda de uma ghostwriter por quem cria interesse, Diane (Alison Brie) que namora o seu rival no mundo do entretenimento, Mr. Peanbutter (Paul F. Tompkins)

Se na primeira temporada, tínhamos que engolir personagens inconstantes, problemáticos e não conscientes de seus defeitos, tal como um Bojack irônico, sarcástico, com humor tóxico com os outros e piadas auto-depreciativas, se definhando em álcool, sexo, vício e perda de sentido na fama...Na sexta temporada vemos um ar de esperança em relação a tudo isso.


A primeira temporada, apesar de demorar pra pegar ritmo, usa piadas sarcásticas e referências a cultura pop americana (mais especificamente a cultura da mídia) como plano de fundo pra algo bem maior; a melancolia da existência humana. Eu poderia definir esse "algo bem maior" de Bojack com muitas palavras, mas escolhi melancolia da existência humana, porque é o que me cabe dizer no momento.


A parte mais deliciosa de ver a 6 Temporada (além é claro de dar alô a novidades e episódios muito bem feitos) é a comparação explícita com as temporadas anteriores, principalmente em episódios marcantes na vida do cavalo (e de quem assiste). 

Interessante comparar a trajetória do cavalo desde 2014: a primeira temporada saiu sem burburinho, mas logo o cavalo ranzinza ganhou espaço no catálogo e nas preferências de muitas pessoas. Nisso, foram seis anos de uma longa jornada depressiva e transtornada, não só pro protagonista, Bojack.


A comparação explícita, vem de que no piloto da série, somos apresentados a rotina dos personagens em relação ao protagonista e quem ele é, ou era, nos anos 90, fantasma do qual ele se prende firmemente. Na sexta temporada, vemos o protagonista e sua relação com os outros não diretamente ou por convivência, mas em relação a estar deslocado de que rumo cada um está tomando na vida.


Um exemplo disso, é o Episódio 7 da Temporada 1 (Say Anything) em relação ao episódio 2 da 6 Temporada (The New Client) em que vemos como a personagem Princess Carolyn lutou pra chegar onde estava e como suas prioridades e sua trajetória mudaram.

O mais legal em relação as temporadas anteriores, é que Bojack nunca prometeu felicidade ou final feliz. As temporadas, a partir de sua metade, ficam extremamente densas nas críticas sociais e reflexivas em questões diversas como; existência, depressão, ansiedade, medicação, terapia, aborto, feminismo, alcoolismo, abuso, violência, maternidade, paternidade, relações humanas, traições, erros, perdão, maldade, vício e diversas outras alfinetadas ou críticas sociais exploradas ao longo da série.


Isso dá a condição de aviso ao espectador que, quando a coisa começar a ficar divertida, ela vai começar a decair pra algo profundo. Humor e drama sempre combinaram bem. Se fossemos ver num gráfico, o pico de "humor ácido" serve como plano de fundo pra toda a tristeza e filosofia que a série quer passar. E esse pico só sobe nos primeiros quatro episódios de cada temporada da série. Porém, a partir da quarta temporada, as coisas ficaram diferentes e a série ganhou uma caricatura e assinatura mais densa nos roteiros e começou a cutucar feridas humanas e abri-las, pra machucar.

Difícil não derramar alguma lágrima se você se deixar tocar pelo que acontece com o cavalinho (e acontece com a gente também, só não nos colocamos no lugar dele).
O diferencial dessa 6 temporada, portanto, são dois;

1.  Começar já chutando o balde e deixando o humor ácido leve, como uma assinatura de uma temporada final. Assim deixando como papel principal, não Bojack (porque a série não é só sobre ele desde a primeira temporada), mas sim sobre a existência humana e sua melancolia.

A série vem com tudo, como eu disse anteriormente num tweet; "Como uma voadora de dois pés com cuspe na cara, mas gentilmente, mostrar a que veio. Mostrar o que é a série Bojack Horseman e mais importante, quem é Bojack Horseman."


Isso se dá logo no primeiro episódio, extremamente pesado em relações aos outros pilotos de temporada, com flashbacks de Bojack, com direito a metáfora, céu estrelado na garrafa e abertura modificada.

2. O outro diferencial dessa temporada, que balanceia a voadora, é a esperança. Apesar dos roteiristas, produtores e a série em geral nunca apontarem pra um final feliz, a quinta temporada acaba com um ar de mudança e a sexta começa com um ar de esperança.


Um ar de que a trajetória de todos mudou muito em cinco temporadas e agora, cada personagem reconhece em si o transtorno, o erro e os defeitos (alguns menos que outros) pra poder finalizar a antiga trajetória que os prendia.

Eu diria que, se antes eles começaram sua trajetória em Hollywoo, agora eles podem seguir pra "Calçada da Fama da Vida". Mas, como nem tudo são flores, os episódios seguintes vão balanceando "merda sendo jogada no ventilador", o reconhecimento do personagem sobre seu próprio ser e a aceitação ou não disso e até histórias paralelas pra divertir.

A esperança vai sendo pincelada a cada episódio, pra que a gente entenda que até mesmo personagens que erraram muito, como Bojack, ou personagens inseguros, como Diane, tem a chance de mudar ou melhorar. Uma mensagem que também cabe a nós levar pra vida.

Só que entra aí, uma questão muito importante na série, que na abertura aparece como um dos episódios específicos como plano de fundo da passagem de Bojack, o episódio Churros Grátis, 6 Episódio da 5 Temporada (Aliás, a escolha dos planos de fundo não foi atoa).
Nesse episódio, Bojack está num enterro (sem spoilers) e lá, ele diz a seguinte frase; 

"Não existem finais felizes. Se todos estão felizes, a série acaba. Acima de tudo, a série precisa continuar. Sempre vai ter mais. Nada é mais real que isso: nunca há finais felizes porque sempre há mais por vir. Até não haver mais." 

Para aqueles que lembram do monólogo que foi o episódio Churros Grátis, ou reviram a 5 temporada antes de ver a 6, é difícil acreditar que essa esperança pincelada vá se dar ao luxo de se tornar uma obra finalizada na mão de roteiristas e produtores que nunca quiseram entregar uma série de perdão, redenção e final feliz.

Isso preocupa aqueles que são fãs, mas ao mesmo tempo alivia. Quem gosta de Bojack sabe que um final feliz seria fora do tom e um final macabro seria exagero. O que deixa triste é saber que não dá pra prever o final do Bojack e ao mesmo tempo que sabemos que ele não merece, desejamos um final feliz pra todas as pessoas, inclusive ele, do qual acompanhamos a jornada por seis anos.

O alívio é saber que as questões que devem ser respondidas serão, os personagens que devem tomar rumo (até onde seus limites e os episódios alcançam/permitem) tomarão rumo e aquilo que deve ficar em aberto pra reflexão, em sua maioria questões que englobam novamente sobre a melancolia da existência humana, ficarão lá.

A Netflix errou em determinar o cancelamento de Bojack tão precocemente, porque a série ainda tinha galho pra se coçar, ou seja, muito conteúdo reflexivo e piadas produtivas.

A empresa tomou essa decisão porque não é prioridade dela, mesmo a série sendo querida pelo público universalmente, o que acho um erro.


Os produtores e diretores, conscientes disso, deram então o rumo que essa temporada provavelmente não teria originalmente, mas que coube bem; é o final de algo, mas não a resposta pra questão nenhuma. Bojack teve a chance dele, muitas, basta ver como ele vai aproveitar ela e como vai passar isso pra gente no final.


Meus olhos encheram de lágrimas em todos os episódios, não só por ser a última temporada de uma trajetória que acompanhei, mas por ser uma despedida com ótimos episódios, nos tons certos a me dizer claramente que há mais por vir.
Espero ansiosamente pela segunda e última parte da última temporada de Bojack Horseman em Janeiro. 

Até lá, ficarei com os Projetos sem nome da Princess Carolyn pensando em como as reflexões impostas nos episódios são muito pra mim. (That's too much, Man!)

Pra quem quiser dar uma oportunidade na série, recomendo assistir numa engajada só a primeira temporada. Para muitos, ela demora a "dizer a que veio", por demonstrar mais preocupação com o humor ácido nos primeiros episódios. Alguns recomendam que pulem os três primeiros, eu recomendo que assistam e insistam, a série decola a partir disso e aí então, fica impossível não se interessar lela trajetória dos animais mais humanos que nós de Hollywoo.

Para aqueles curiosos sobre a primeira metade da última temporada da série do cavalinho, segue a lista dos nomes dos episódios e minhas impressões sobre:

Episódio 1: Um cavalo na clínica de reabilitação

Episódio 2: O novo Cliente

1 e 2 extremamente fortes em comparação com o 1 e 2 de outras temporadas, principalmente visto no contexto geral dos personagens principais dos episódios.

Nota do episódio 1: 10/10 Nota do episódio 2: 9,5/10 (atacou minha ansiedade)

Episódio 3: Matéria pra se sentir bem

Episódio 3 mais reflexivo e começa a dar rumo pra uma das personagens mais confusas e mais amadas/odiadas da série. Nota do episódio 3: 8/10

Episódio 4: Surpresa!

Episódio 4 com uma intensa desenvoltura na narrativa, um roteiro profundo nas relações amorosas e amigáveis que mantemos, com um humor mais infantil pra mascarar a dor que é mexer nesse assunto. Nota do episódio 4: 7,8/10.

Episódio 5: Um pouco agitado, só isso
Episódio 5 começa a mostrar um pico de esperança nos personagens que vai se desfazendo com algumas poucas informações jogadas na tela, o que mostra um rumo pro final da mid-season preocupante. Nota do episódio: 7,8/10

Episódio 6: O rim fica em destaque
Começa a mostrar a realidade que Bojack tem que enfrentar e a aceitação de quem ele é, além de explorar mais o Todd, personagem querido do qual pouco sabíamos o passado.Nota: 8/10

Episódio 7: O rosto da depressão
Melhor episódio da temporada pela simplicidade e a força que ele tem. A aceitação dos personagens sobre si mesmo e sobre o rumo que tomaram na vida. Nota; 9/10

Episódio 8; Uma rapidinha enquanto ele não está
Episódio com narrativa diferenciada por não ter o olhar Horseman presente, esse episódio é o mais "ansioso" junto com o 2, pois a "merda vai sendo jogada no ventilador" e vamos ficando ansiosos sobre como os personagens e principalmente, o Bojack, vai lidar com isso. O final é sufocante. Nota; 8/10 



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