CRÍTICA: DURANTE A TORMENTA

30/03/2019

Durante a Tormenta é uma grata surpresa do Cinema Espanhol.

Ficha Técnica:

Ano: 2018 - Espanha                 Duração: 2h9min    

Gênero: Ficção, Viagem no Tempo, Drama,Suspense                 

Roteiro e Direção: Oriol Paulo   

Elenco: Álvaro Morte, Adriana Ugarte, Chino Darín, Javier Gutierrez  

Sinopse: (a partir dos 14 anos)

Uma inusitada interferência entre duas épocas diferentes faz com que Vera (Adriana Ugarte), uma mulher casada com Davi (Álvaro Morte) e feliz com sua filha Glória, salve a vida de um menino que morou em sua casa há 25 anos. O ato de bondade distorce a realidade e Vera acorda em uma realidade totalmente diferente, onde sua filha nunca nasceu e ela nunca conheceu seu marido. 

(ESSE FILME PODE SER ASSISTIDO NA NETLIX)

Durante La Tormenta, Mirage ou Durante a Tormenta é o novo filme Espanhol da Netflix que têm dado o que falar. O filme chamou a atenção do público por ter uma figura curiosa já conhecida: Álvaro Morte, ou mais conhecido como El Professor/O Professor de La Casa de Papel, série Espanhola da Netflix que bombou no último ano.

Além da imagem do ator, que é carismático e desperta vontade de vê-lo atuando em outros filmes, a história parte de uma premissa curiosa para um filme estrangeiro; é um filme espanhol sobre ficção, o que causa estranhamento já que o gênero só é explorado e praticamente monopolizado pelos Estados Unidos, ainda sim, ele cumpre o que promete e ainda entrega um resultado muito maior que isso.

Durante a Tormenta conta a história de Vera (Adriana Ugarte) uma médica que se muda para uma nova casa com sua filha pequena, Glória e seu marido, Davi (Álvaro Morte). Juntos, eles acham uma antiga televisão e fitas, do antigo morador da casa, Nico Lasarte. Nico Lasarte foi, quando criança, testemunha ocular de um crime na vizinhança e acabou morrendo precipitadamente por isso. Numa tempestade elétrica que vem a cada muitos anos, Vera acaba entrando numa experiência atemporal e criando uma brecha entre seu presente e o passado de Nico. Sabendo de seu trágico fim, ela conta pra Nico o que vai acontecer, evitando a morte dele. Com isso, toda a sua vida passa a mudar também e ela acorda numa realidade sem conhecer seu marido e principalmente, sem ter sua filha.

É extremamente instigante, tanto o roteiro bem fechado de Oriol Paulo como sua direção expressiva para um filme que pede foco nos detalhes. Importante ressaltar como as informações são bem jogadas para o telespectador, além de fazer ótimos paralelos e voltar em círculos sem se tornar repetitivo. Os fatos voltam novos e frescos na mente de quem assiste e é fácil acompanhar a linha temporal. A maior surpresa do filme é a curiosidade que ela desperta no telespectador pra saber até onde Oriol vai levar Vera e se ela vai conseguir descobrir o quê, exatamente, está acontecendo.

Além da história ser instigante, os efeitos visuais da televisão antiga, da tempestade e a própria direção de arte com os detalhes de objetos, relógios e como tudo se conecta depois são muito bem feitos e extremamente cuidadosos; um sapato no chão, uma faca, assim como letras gravadas num relógio. Tudo isso, junto da ótima atuação de Adriana Ugarte, colabora para que o telespectador sinta compaixão e torça pra que ela consiga resgatar sua vida. Mas a grande questão que o filme trás, mesmo como um pano de fundo é; Uma ação minha pode afetar outra pessoa no futuro? A ação sobre essa pessoa pode acabar voltando pra mim? E mais importante de tudo; 

A minha vida vale mais que a de outra pessoa?

A partir de certo momento do filme, diga-se o início da nova realidade de Vera, já é fácil conectar algumas coisas sobre a nova vida dela baseado no que vimos do passado. No passado, ela fez decisões e alterou a vida dos outros. Nessa nova realidade, a bondade dela alterou a própria vida. Também é fácil desvendar o mistério sobre Nico e ainda que o foco principal seja a vida de Vera, é impossível não torcer pelo menino que vemos assustado e querer saber o que aconteceu com ele.

A vida de Vera, ainda que mostrada brevemente no início, dá alusões de ser muito boa, mas não feliz o suficiente. Ouso dizer que Álvaro, num papel muito diferente do Professor, mas atuando tão bem quanto como Davi, é aquele marido que causa desconforto, estranheza e até incômodo em seus momentos de tela, sem saber o porquê. O sentimento triplica quando você descobre, causando distanciamento. Notas de peso também para o pequeno ator que faz Nico Lasarte e Jávier Gutierrez, como um vizinho apático que esconde um segredo sombrio.

Durante a Tormenta conta uma história trágica, dramática e até mesmo muito pesada e delicada, por retratar a dor de uma mãe por estar numa realidade sem sua filha, a perda de uma vida que você estava acostumado a ter, a cegueira sobre a nova e um crime horrendo há anos escondido. O foco não está, em si, na lógica das viagens temporais, efeito borboleta ou até a própria tempestade, ainda que o roteiro dê uma pincelada nisso. O foco está em fugir da prisão que você não considera sua vida por sentir faltar algo e a solução pra isso é feito da melhor forma possível, diga-se dramática, além de uma resolução com gostinho de quero mais.

A tormenta mesmo, é o sofrimento de Vera e Nico, ela ao se ver perdida num mundo que reconhece, mas não se insere, ele numa realidade em que tecnicamente, não deveria existir. Vera vendo as pessoas que parecem jogar com ela, ou julgá-la, quando na verdade essas pessoas não precisam dela, ou ver fatos que se mantém independente da linha temporal que se segue, coisas imutáveis como um erro ou um acerto da vida, são suas tormentas, como se tudo antes da tempestade fosse um erro.  Vemos principalmente sua tormenta em tentar consertar o destino.

E se você não conhecesse um grande amigo? Como seria sua vida? Qual destino levar?

Com destinos, acontecimentos, personalidades e erros mutáveis e imutáveis, o filme se torna completamente amarrado, sem barrigas, dúvidas ou se tornar cansativo. Faz jus ao tempo de duração. 

Durante a Tormenta é uma grata surpresa do cinema espanhol, que tem mostrado cada vez mais as caras e versatilidade, dando abertura para novos gêneros, atores, diretores e histórias tão surpreendentes - ou mais - que filmes americanos. O mercado espanhol começa a se expandir com filmes e séries, mostrando talento. Esse filme comprova o crescimento disso e claro, que há muita coisa melhor por vir.

NOTA: 8,5/10

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